domingo, novembro 20, 2005

Demónios interiores


Uma pergunta feita anteontem deixou-me uma canção a balouçar na cabeça... Fica aqui, na minha despedida de fim de semana. Letra de Carlos Tê para música e voz do Jorge Palma.
E só posso dizer: RTP esta é para ti! :)



Demónios interiores

Sentei à minha mesa
os meus demónios interiores
falei-lhes com franqueza
dos meus piores temores

tratei-os com carinho
pus jarra de flores
abri o melhor vinho
trouxe amêndoas e licores
chamei-os pelo nome
quebrei a etiqueta
matei-lhes a sede e a fome
dei-lhes cabo da dieta
conheci bem cada um
pus de lado toda a farsa
abri a minha alma
como se fosse um comparsa
E no fim, já bem bebidos
demos abraços fraternos
saíram de mansinho
aos primeiros alvores
de copos bem erguidos
brindámos aos infernos
fizeram-se ao caminho
sem mágoas nem rancores
Adeus, foi um prazer!
disseram a cantar
mantém a mesa posta
porque havemos de voltar...

Eu sei que isto pode não responder satisfatoriamente, mas é o que eu tento fazer através do que escrevo... Beijo e boa semana a todos os visitantes ;)

Nandita on tour

sexta-feira, novembro 18, 2005

Fragmentos

E no meu sonho havia uma praia. A rebentação das ondas era suave e o mar, tingido que era de azul profundo, tornava-se branco a meus pés.
Não sei onde estava, mas sentia que aquilo era o limbo.
Atrás de mim abria-se um bosque, o que tornava o meu cenário ainda mais irreal. Era escuro, ondulante, mas convidativo. As heras entrelaçavam-se nos carvalhos e nos pequenos ciprestes e eu conseguia ouvir o chamamento das velhas árvores, onde se refugiam os esquilos e os bufos.
Senti-me tentada a avançar pelo bosque, para poder percorrer os seus trilhos, que adivinhava cobertos de musgo, mas havia qualquer coisa no canto das águas que não me deixava sequer mover.
Só então é que vi. À praia chegavam pequenos objectos, como destroços de alguma velha nau. Eram velhas fotografias de cores esbatidas, bonecas, roupas, cartas… a imagem e o cheiro de todos os lugares onde passei, das pessoas que conheci! Cravavam-se na areia, cobriam toda a praia, rodeavam-me, lambiam-me os pés. Todo o meu passado estava ali, e eu estava vazia.
Como num acto de desespero, tentei recolher esses fragmentos, protegê-los da rebentação. Como a areia onde se enterravam, eles perdiam-se de novo por entre as minhas mãos, escapavam-se e enterravam-se ainda mais fundo.
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E agora, como avançar para o futuro se o passado se perdeu?