sábado, agosto 12, 2006

Mulheres

Vão pelo caminho romano, ladeado de silvas e cardos roxos. Lenços, chapéus de abas largas, a saia e o avental muito pretos, tão pretos como a saudade...
Levam sachola, balde, pão e vinho para quando a fome apertar e as gargantas secarem.
Caiu a noite há pouco.
Cantam


Se fores à erva, vai ao Valadinho...
No rosto, estão marcadas muitas mais modinhas, a cantiga dos dias de trabalho de sol a sol, o entoar dos cânticos de Igreja, misturados com a realidade de trabalhar a terra...
Tomai e recebei, as horas do meu dia
Alegrias e dores, penas e trabalhos...
São as mulheres que passam para o campo.
São as minhas avós, semente e terra da vida dos meus pais, eco intemporal que me chega agora, ao anoitecer, nessa hora antiga de saídas para a rega, para uma noite inteira de trabalho ao luar.
São a fibra de que os meus pais me fizeram, a parte de mim que chora quando tem de partir, sair das leiras verdes, abandonar a vinha e os campos de milho de uma infância que não podia ter sido mais feliz.
Já não nos acompanham nos trabalhos do campo, já partiram a dar graças ao Senhor que sempre acreditaram em vida. Mas olham por nós, continuam a velar pelos que cá ficaram.
Não sei porquê, mas sei que sim.

7 comentários:

Nandita disse...

Ai que horror, apaguei o post repetido e os comentários que estavam lá loool isto nao se faz...
mas fica aqui a cópia:

o ghost disse que: "As memórias são
Como livros escondidos no pó³
As lembranças são
Os sorrisos que queremos rever, devagar." Luí­s Represas
Se não fossem as memórias não nos lembravamos desses tempos, em que não nos cobravam nada e em que tudo era tão mais simples...


e o miguel disse que:
Isto deu uma sensação mesmo agradável ao ler... como uma velha brisa de outros tempos... conheço pessoalmente cada palavra que aqui escreveste =)
beijo



desculpem, amigos ;)
beijo

*@rclight* disse...

oi nandita!
passei pa t deixar uma bjoka!
leio-t mais tarde amiga!

Ana João disse...

um livro cheio de saudade, cheio de memórias...a vida é assim, uma caixinha cheia...

pinkpoetrysoul disse...

=)
pareces mesmo uma mulher da terra, do campo, feita de fibra e de ferro, sem medo de trabalhar sol a sol, cheia de força e de garra!!
Continua...Beijinhos!!

Xô Dona do Estabelecimento disse...

De volta às tradições, de onde todos nós viemos um dia, e de onde não nos lembramos de passar...
Ao darmos valor ao antigo, ao passado, estamos preparados para enfrentar o presente e esperar por um futuro...
beijinhos nandita*

Andre_Ferreira disse...

Vivo nesse ritmo que descreves e não o poderia descrever melhor do que tu o fizeste(embora sem canções ou preces...). Talvez porque o vivido diariamente se afasta muitas vezes da reflexão e passa a automatismos inconscientes...
Beijinhos

André disse...

Bela nostalgia presente nas palavras... pintei um quadro antigo e de cores vibrantes na mente.