sábado, março 31, 2007

Desculpem lá...


...mas este moço tem qualquer coisa :)

"Think Beck via Queen and Elton John and a touch of Rufus W. Would love to blab about Harry Nillson but I fear no one will know what I'm talking about... but if you do, you'll know what I mean."

domingo, março 25, 2007

Noite 1.1

Sentada no meio do café barulhento, vou ouvindo sem escutar as histórias dos meus amigos, que me rodeiam.
Olhos fixos na televisão, sigo com um interesse incomum as séries, a novela, a publicidade, o que quer que seja que passe e me distraia.
Cá por dentro, o barulho do que penso confunde-se com os cânticos e os brindes já desencontrados dos vários grupos bem bebidos que estão no café. Estão a festejar, uns. A esquecer, outros. A tentar conter-me, eu.
Cerro os dentes, vou mordendo os lábios, tento controlar o afluxo súbito de lágrimas nos olhos, por mais uma tolice qualquer que me passou pela cabeça. Consigo. Ninguém deu por nada. Nem percebo o que tenho, de tão estúpida que me sinto.
A conversa segue, animada. Apanho uma anedota a meio, sorrio. Tem efectivamente piada, mas eu não estou lá, não consigo acompanhar as gargalhadas dos outros. Vou seguindo um pouco atrás, só.
O café enche ainda mais, perto da hora de fechar. É ponto de encontro para mais uma noite, ali ao lado. Um rapaz senta-se ao meu lado, mete conversa. Já o conheço de outras noites, mas hoje não consigo trocar mais do que duas palavras com ele. A conversa vazia sobre como fica triste se eu não sair com o pessoal acaba por me irritar, e vou-lhe respondendo em monossílabos e acenos de cabeça. Acabo por pedir desculpa, e levanto-me para pagar. Olho atentamente as garrafas, expostas, a ver se os olhos me secam de novo.
Só o funcionário de sempre me arranca um sorriso largo. “Então que vai ser, princesa?”, pago a despesa triste desta noite e saio.
Mais gente cá fora, estão todos tão alegres que me dou ao direito de os invejar. Espero pelos amigos que também vêm embora, acordo um bocadinho com o frio cortante que está. Noite estranha, para Março. Lágrimas estranhas, para uma noite que se queria alegre.
Sou a pior das companhias, numa noite assim. Vou caminhando em silêncio, tento concentrar-me no céu escuro, nas escarpas desenhadas a luz do rio Corgo. A ponte hoje é excepcionalmente comprida, feita de silêncio. Estou quase em casa, mordo ao de leve os lábios e vou olhando a ponta brilhante dos meus sapatos.
Despeço-me quase em silêncio e subo.
Estou sozinha. Posso chorar. Não vale a pena...

terça-feira, março 06, 2007

Resumo

Tenho a mesa cheia de trabalho. Folhas espalhadas, esquemas, tabelas, imagens, pelo meio de letras minúsculas a darem-se ares de códigos indecifráveis.

No meu lugar cativo no café da rua, a agitação próxima ajuda à concentração. Ajo como se o espaço já fosse meu, peço o café do costume, e estudo.

Desfilam nomes, teorias, métodos... listas intermináveis que urge saber, pessoas e locais que nunca conheci, mas que parecem imprescindíveis ao meu futuro.

Estou cansada disto, do saber falso, feito de engolir e vomitar conhecimentos alheios, a História dos outros.

Encosto-me na cadeira, afundo-me um pouco (é já um hábito), e viajo...
O dia que passa lá fora está cheio de Sol, não parece Inverno, não parece Vila Real. E as pessoas notam-no, saem à rua como em agradecimento.
As manhãs de luz põem-nos sorrisos nos passos. Queria poder caminhar... Sorrio para outras manhãs, outros dias feitos de luz. Afinal, já passou tanto tempo.
O presente não deixa espaço para me encher desta luz. A realidade resume-se aos livros. Antecipo os dias que aí vêm, sem a pressão de hoje. Falta tanto, e na verdade já não falta quase nada.

Volto à Terra. O barulho no café cresce, agrada-me este tilintar constante de copos e chávenas, a conversa amena das senhoras da outra mesa, a correria dos funcionários de lado para lado, que me esquecem porque eu estou sempre aqui.
E os papéis ali. Cheios de notas, sublinhados de desespero, à minha espera. Sempre à minha espera.
Mergulho de novo nas folhas, luto com os nomes, é difícil apropriar-me de tantas pessoas e das suas almas.

Cheia de tudo... vazia de mim.