quinta-feira, maio 03, 2007

Ficar sempre contigo


“Há qualquer coisa no momento em que duas pessoas desenlaçam um abraço forte. O sentimento de que continuamos ligados, protegidos. De que o abraço se prolonga para lá do contacto dos corpos, da pressão quente no nosso peito, dos braços que se estreitam. Poder ir embora e sentir que levamos o outro connosco, e que ele nos protege, nos enlaça ainda.”

Era o que ela pensava, enquanto se abraçavam, sentados no auditório semi-escurecido que era o carro, com mil pontos de luz à sua frente, no quadro encantado e nocturno das cidades adormecidas.

Estavam em silêncio, mas era um silêncio com forma, palpável e confortável, a voz das coisas que gostamos e nos gostam. O que não diziam entendia-se nos gestos e no olhar, na calma de um roçar de cabelos e de um beijo na testa.

O abraço desfez-se, mas ficou. Ela sentiu que tinha razão, que continuava protegida. Estava certa.

E desfez-se o silêncio. Murmuraram-se “quero-te” ao mesmo tempo e ficaram a olhar a lua, quase cheia por entre a folhagem nocturna, parceira fiel e silenciosa, lá no alto. Sorriam e ela respondia de volta, encantada com a perfeição das coisas simples.

E falaram. Das trivialidades, dos medos, dos desejos. Falaram da alma, e a lua testemunhou. Falaram de tudo e de nada, e acompanharam-se, com a força de uma mão quente aberta sobre o peito. Estão juntos, aconteça o que acontecer. Porque se querem.

E isso basta.