segunda-feira, dezembro 08, 2008

Sons para um domingo caseiro




NANTES


Well it's been a long time, long time now

Since I've seen you smile

And I'll gamble away my fright

And I'll gamble away my time


And in a year, a year or so

This will slip into the sea

Well it's been a long time, long time now

Since I've seen you smile


Nobody raise their voices

Just another night in Nantes

Nobody raise their voices

Just another night in Nantes

quarta-feira, novembro 26, 2008

Hoje

Porque há coisas que ficam, que doem quando as recordamos. Sempre ficarão as frases a meio, as coisas que tinha tão explicadas na minha cabeça e que não encontraram as palavras certas para sair.
Porque de tudo o que dissemos, só uma parte devia ficar. Mas também porque não se pode esquecer tudo. Eu não posso. Sei que não podes. É implacável e injusta, a roda da Vida.
Fica o que está lá para trás. Como um espinho de dor fininha, de cada vez que o recordo. De cada vez que ouço as canções que ouvia contigo, e de que me ensinaste a gostar. De cada vez que me lembro de tudo o que fizeste por mim, das coisas incríveis que fizeste em troca de nada. De cada vez que vejo os sítios por onde andámos, as aventuras que vivemos. Estão aqui, ficarão aqui.
Porque estes dias me tenho lembrado de ti. Não podia esquecer. Para ti (parabéns):

terça-feira, novembro 25, 2008

Da minha janela...

...vejo os meus primeiros dias de neve. Serão algo habitual por aqui, como as baixas temperaturas. E sei que me vou fartar de ambos. Mas enquanto dura o encanto, sabe bem estar encolhida aqui no quentinho, e ver o manto branco lá fora. É um Inverno à séria, o eslovaco. E sabe bem para me acordar. E para me limpar os olhos. O branco sempre foi uma boa opção!



quarta-feira, novembro 19, 2008

Crianças

Ainda agora soaram as 2 da tarde na minha cabeça, mas o dia já vai longo para mim. Aqui no leste da Eslováquia, o Inverno dita que às 4 seja noite fechada, e as pessoas com quem me cruzo agora parecem cansadas como num fim de dia.
Passo por crianças a chegar da escola, mães atarefadas com os seus sacos de compras, idosos com um ar tão sólido e inquebrável como os edíficios comunistas que nos cercam. Igual a qualquer outra cidade, mas tão diferente afinal...
Neste bairro, como por toda a cidade, cruzo-me com Roma, habitualmente inofensivos, encostados pelos cantos, sentados nos jardins. Pousam em sítios muito frequentados, sempre sujos, mal agasalhados, a tentar esconder o frio a cada cigarro que puxam. A pedir, ou simplesmente à espera que alguém lhes dê algo. Iguais a todos os outros, mas também aqui tão diferentes afinal... se o somos todos, diferentes.
Caminho apressada entre dois compromissos, preciso de coisas do supermercado. Andar depressa espanta o ar frio que insiste em colar-se a mim, subir pelas mangas do casaco, gelar-me o nariz. São duas da tarde, o frio é de meia-noite.
Em sentido contrário correm três crianças Roma. Pouca roupa, ainda menos banhos. Uma garotita dos seus 9 anos, a outra menina e um rapaz com menos de 7. Vêm a brincar. Iguais a todas as outras crianças, mas tão diferentes.
É que estes três meninos só têm um brinquedo. E o par de patins consegue ser brinquedo para todos. A maior calça um patim e um sapato, a mais pequena o mesmo, e o menino corre atrás delas a sorrir. As duas, de patins e mãos dadas, ele a tentar alcançá-las, as risadas dos três a ecoar por toda a rua. Tão felizes com algo tão simples. Tão diferentes, mas tão iguais afinal a todas as crianças.

sábado, novembro 15, 2008

1,2,3... vai

Hoje é um dia em que eu me devia concentrar. Para ser sincera, é o primeiro dia de trabalho sério, árduo e metódico que devia ter em dois meses. É verdade, hoje passam dois meses desde a tarde em que saí de casa de malas na mão, para esta aventura. Arrepiei-me quando percebi isso, esta manhã. Que dois meses! Que dois meses, cheios de pessoas, de gestos, de novidades, cores, sabores e cheiros improváveis. Que dois meses, marcados hoje por esta decisão "Tens de te concentrar, Fernanda". Começou! Começou agora aqui aquilo que me começava a angustiar em Vila Real, as últimas épocas de exame estiveram muito longe da calma com que costumava levar todo esse processo. Espero por ansiedade, apertos no peito, insónias, seguidas de pesadelos em que não me recordo do nome dos parasitas que devia ter na ponta da lingua. E muito estudo de última hora, talvez ainda um nome rabiscado no braço, ou escrito num post-it amarelo e guardado no bolso de mais fácil acesso. Uma hora irritante de exame... à espera da sensação de alívio habitual, tenha corrido bem, mal ou assim-assim. O peso que eu sinto levantar-se durante o exame faz-me esquecer as consequências das respostas, o valor da unidade curricular, o que vocês queiram.
Fica prometido, a dois angustiantes dias do exame, que segunda-feira será um dia de alívio! Saia eu morta ou viva daquela sala, a primeira, depois do primeiro de muitos testes, o dia vai ser meu. E quem sabe todas as outras angústias que me têm perseguido se desvaneçam também... façam de conta que não estão lá, só por aquele fim de tarde. Para não me martelarem de memórias, de dúvidas, de perguntas parvas e arremedos de respostas ainda mais insignificantes. Tudo muda, mas afinal nada mudou. Afinal estou aqui, e continuo a mesma miúda que não sabe tomar conta de si, e precisa de alguém de confiança que a proteja. A diferença é que agora sei disfarçar, e perco mais do que ganho com isso. Ninguém abraça a menina que parece forte suficiente para decidir por si só, que não parece ter dúvidas, ou que se as teve, as esclareceu de modo exemplar. Não sou assim, afinal. Sou a mesma...
Não sei que rumo levo nestas palavras desorganizadas, um ramalhete de pequenos apontamentos sobre o estado da minha cabeça estes dias. Mas precisava de, por algum modo, as deixar em algum lado. Ficam aqui, porque não deixá-las na minha casa? Talvez se sintam acompanhadas pelas palavras de dias mais felizes, que ficaram para trás, e talvez se animem. Quem sabe segunda-feira as minhas palavras serão diferentes?
Um bom fim de semana.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Hoje lembrei-me do Variações

Porque hoje me fez sentido tudo isto. E porque percebo que há coisas "intraduziveis", por mais que eu o quisesse. É simples. É só isto. Quero só isto. Viver.



Vou viver
até quando eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver

Amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será mais um prazer
e a vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com a idade
interessa-me o que está para vir
a vida em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir

encontrar, renovar, vou fugir ou repetir

(António Variações)



terça-feira, outubro 21, 2008

Saudades

Demasiado tempo livre dá nisto... e andar para um lado e para o outro a remexer fotos também... É só uma maneira de dizer que sinto a vossa falta, estejam nestas imagens ou não (porque há pessoas que odeiam tirar fotos). Ficaram os olhos vermelhos, os enquadramentos deficientes de quando eu tiro fotos. Ficou tudo, porque não me importava. Só queria deixar a vossa imagem. Com saudades. Mas com vontade de voltar cheia de histórias. Passou um mês.




domingo, outubro 05, 2008

Canção simples

Simples. Feliz. Nostálgica. Mágica. Minimalista. Genial. Com palavras belas, ditas e cantadas de forma bela. Hoje é domingo. Está frio e vento lá fora. Mas há palavras que ajudam, e aquecem. Em português. Para me trazer o sol de Portugal, e os risos da minha gente, desde lá longe. Para adormecer a saudade. Para vos ter aqui. Fazem-me muito mais que o sol.




há qualquer coisa de leve na tua mão

qualquer coisa que aquece o coração

ha qualquer coisa quente quando estás

qualquer coisa que prende e nos desfaz

quinta-feira, outubro 02, 2008

Aqui

O que mais me maravilha em mudar de pedacinho geográfico durante uns meses, tem sido este começo...

Aos tropeções, com muitas perguntas, sem sentido de orientação,vou começando a absorver os novos espaços, a conhecer as rotinas, a criar a minha própria rotina.

Dou por mim sentada entre cinco, seis nacionalidades diferentes, e percebo como é extraordinária esta experiência. Todos nós viemos de lugares tão diferentes, com passados de memórias incomparáveis, e conseguimos aqui criar algo em comum, um laço, pontes para o futuro.

Há dias, enquanto passeava na Avenida, percebi que já comecei a gostar deste sítio, e a senti-lo como meu. Tal como em Vila Real. Olho tudo com um ar de companheira, pisco o olho a esta cidade, faço ouvidos moucos aos sons desafinados, à pequenas notas fora de sítio. Porque passa por aí adoptar um lugar. Fazer dele nosso espaço, tomar como nossas as suas batalhas! Kosice não é Viena, como Brno não é Paris. Mas é o meu sítio. Por estes meses, é o meu sítio.

E enquanto o sol morno me entrar pela janela, nas manhãs como a de hoje, não tenho razões para me chatear com o meu sítio. Talvez quando a neve cair, e gelar os passeios, possamos ter uma pirraça... Mas não hoje, e não agora, que ainda estamos a começar.

Vou só aproveitar o sol. O meu novo sol.

quinta-feira, julho 10, 2008

São Leonardo da Galafura


À proa dum navio de penedos,

A navegar num doce mar de mosto,

Capitão no seu posto

De comando,

S. Leonardo vai sulcando

As ondasDa eternidade,

Sem pressa de chegar ao seu destino.

Ancorado e feliz no cais humano,

É num antecipado desengano

Que ruma em direcção ao cais divino.


Lá não terá socalcos

Nem vinhedos

Na menina dos olhos deslumbrados;

Doiros desaguados

Serão charcos de luz

Envelhecida;

Rasos, todos os montes

Deixarão prolongar os horizontes

Até onde se extinga a cor da vida.


Por isso, é devagar que se aproxima

Da bem-aventurança.

É lentamente que o rabelo avança

Debaixo dos seus pés de marinheiro.

E cada hora a mais que gasta no caminho

É um sorvo a mais de cheiro

A terra e a rosmaninho!


Miguel Torga



Estivemos la ontem... E caramba, que aquele sitio e de uma beleza extraordinaria... Espero voltar, ainda este mes, com amigos "estrangeiros"... Guardo as imagens, e a pena daquela ave enormissima que nos sobrevoava, e que me fez sentir ainda mais pequenina... nao bastasse ja a imensidao do Douro e das montanhas sulcadas a suor e sangue duriense.
Sim, Torga, tinhas razao...

quinta-feira, junho 12, 2008

Pressa

E por entre toda a calma aparente deste mundo, os meus dias têm-se tornado complexos e aflitivos.

Passei esta noite a sonhar com coisas terriveis, confesso... Como se estivesse a dormir, mas devesse estar em qualquer outro lado, a fazer algo muito importante. E a minha mente se virasse contra mim, conspirasse para me acordar. "Tu não podes dormir! Há algo mais importante!"

Ando sempre cheia de pressa, a correr de lado para lado e a perder ainda mais tempo, de forma ridicula e automatizada. E os acontecimentos a fugir-me das mãos, sem eu poder controlar nada.

Mas acordo e vejo que, afinal, tenho tempo. Os dias são grandes, agradáveis. Hoje terei tempo para tudo... Posso irritar-me com os compromissos em hora definida, como um emprego das nove às 5. E depois, hei-de poder divertir-me. E esquecer a angústia destes sonhos que me têm perseguido.

Sou só uma pessoa, não uma máquina. E o tempo vai chegar para tudo. O tempo vai ser o que eu mandar...

E vou poder descansar... e desligar aquela voz e aqueles pensamentos. Porque só quero descansar, e isso não pode ser pedir muito.

quarta-feira, maio 28, 2008

quarta-feira, maio 14, 2008

Proximidade, ou não?

É mais uma noite calma na cidade que sorteei na roda da fortuna. E hoje dou por mim a pensar nesta vida em pequenos quadradinhos que vivo. Já me habituei, e gosto, da aparente distância e autocontrolo que nos permite uma vida em apartamento. Mas às vezes dou por mim a estranhar a vida fechada num quadrado.
Da varanda consigo observar a vida de outras pessoas, a menos de dez metros de mim, saber a que horas jantam, qual a cor dos seus lençóis, até, quem sabe, o fulgor das suas vidas sexuais ou a desgraça das suas famílias.
E na verdade, estou tão longe… sei que se o vizinho casar, enviuvar, viajar, morrer, provavelmente eu não o saberei, e continuo a viver tão feliz como no dia anterior. E isso assusta-me. É asfixiante saber que posso estar a morrer, e ninguém vai dar por ela. Ou vão dar, mas uns dias depois, com a alma entregue ao Criador e o corpo a seguir o curso da Natureza.
Sou uma medricas, não sou? E egoísta, e até vaidosa, por não gostar da ideia de me encontrarem assim, apodrecida. Mas é a herança que trago de um local onde os vizinhos são parte da família, para o bem e para o mal. Onde os vizinhos são os primeiros a saber das grandes noticias, e os primeiros a perceber e a ajudar nas desgraças.
O fim da vida verdadeiramente comunitária desilude-me, e torna-me descrente em relação a este mundo onde temos muitos amigos, mas depois sofremos e morremos de forma higiénica, o mais afastado possível das outras pessoas. Não vão elas impressionar-se com tamanha falta de civilidade…
E hão-de dar pela nossa falta só quando folhearem o jornal, em mais uma manhã solarenga de domingo, e virem o nosso obituário. E então, muito senhores de si, dirão de sua justiça sobre nós, que nunca conheceram realmente e que não estamos lá para nos defender.
É a essência absolutamente asséptica da vida moderna. Viver e morrer sem fazer mossa...
O que é que vocês acham? Estamos mais próximos, hoje em dia, ou cada vez mais afastados de quem está ao nosso lado?

quinta-feira, abril 17, 2008

Em modo automático

Custa ver-te assim, sabes? Ver-te desistir das coisas, fraquejar... porque sei que não és assim, que há mais força aí dentro do que a que te deste ao trabalho de utilizar.
Não são as frases cheias de confiança que vais despejando que me sossegam, porque é no correr dos dias que vejo que elas são só... frases. Tretas, com tantas falhas como o coração humano.
É o pouquinho que vais morrendo, dia a dia, que eu vejo. E que não me deixa acreditar. Mas são escolhas, e cada um faz as suas. Boas ou más.
"Assim", dizes-me, "custa menos". Mas...
Há sempre um mas quando falas. Mas vives atormentado pelo passado. Mas na verdade estás ainda mais amargurado que antes. Mas na verdade não consegues deixar de achar que tens poder sobre coisas que já te escaparam há tanto tempo das mãos. Mas já não és tu que estás aí. E eu não conheço essa pessoa nova e fria que apareceu. Uma autêntica muralha.
Porque agora vives em modo automático. Senhor de tudo, mas ao mesmo tempo, sem nada.
Boa sorte.

Foi assim fantástico


quarta-feira, março 19, 2008

...aos dias indefinidos...

Brindemos aos dias indefinidos... Aqueles que nos levam o tempo quase sem contar. Que nos sobressaltam pelas voltas rápidas e pelas noites curtas, no repetir das coisas comuns.
Lembro-me agora com prazer destes dias. Quis tanto ver-me livre deles, e agora só queria correr atrás, reward, stop, play it again... porque é aqui que nos concentramos no moer dos dias, que vemos a beleza de tudo isto, tão simples, sempre igual, sempre tão... único!
Anseio pelo vosso regresso, dias indefinidos. Choro-vos sentada ao pé da vidraça, um livro aberto no regaço, talvez o gato adormecido aos pés... e a pesada culpa de este não ser um dia comum, e haver obrigações extraordinárias a cumprir...
Voltem. Deixem-me parar de pensar. Porque quanto maior é a velocidade do meu autómato de todos os dias, menos terei de reflectir. E eu não quero mais pensar... Desculpem, mas não quero.