quarta-feira, novembro 26, 2008

Hoje

Porque há coisas que ficam, que doem quando as recordamos. Sempre ficarão as frases a meio, as coisas que tinha tão explicadas na minha cabeça e que não encontraram as palavras certas para sair.
Porque de tudo o que dissemos, só uma parte devia ficar. Mas também porque não se pode esquecer tudo. Eu não posso. Sei que não podes. É implacável e injusta, a roda da Vida.
Fica o que está lá para trás. Como um espinho de dor fininha, de cada vez que o recordo. De cada vez que ouço as canções que ouvia contigo, e de que me ensinaste a gostar. De cada vez que me lembro de tudo o que fizeste por mim, das coisas incríveis que fizeste em troca de nada. De cada vez que vejo os sítios por onde andámos, as aventuras que vivemos. Estão aqui, ficarão aqui.
Porque estes dias me tenho lembrado de ti. Não podia esquecer. Para ti (parabéns):

terça-feira, novembro 25, 2008

Da minha janela...

...vejo os meus primeiros dias de neve. Serão algo habitual por aqui, como as baixas temperaturas. E sei que me vou fartar de ambos. Mas enquanto dura o encanto, sabe bem estar encolhida aqui no quentinho, e ver o manto branco lá fora. É um Inverno à séria, o eslovaco. E sabe bem para me acordar. E para me limpar os olhos. O branco sempre foi uma boa opção!



quarta-feira, novembro 19, 2008

Crianças

Ainda agora soaram as 2 da tarde na minha cabeça, mas o dia já vai longo para mim. Aqui no leste da Eslováquia, o Inverno dita que às 4 seja noite fechada, e as pessoas com quem me cruzo agora parecem cansadas como num fim de dia.
Passo por crianças a chegar da escola, mães atarefadas com os seus sacos de compras, idosos com um ar tão sólido e inquebrável como os edíficios comunistas que nos cercam. Igual a qualquer outra cidade, mas tão diferente afinal...
Neste bairro, como por toda a cidade, cruzo-me com Roma, habitualmente inofensivos, encostados pelos cantos, sentados nos jardins. Pousam em sítios muito frequentados, sempre sujos, mal agasalhados, a tentar esconder o frio a cada cigarro que puxam. A pedir, ou simplesmente à espera que alguém lhes dê algo. Iguais a todos os outros, mas também aqui tão diferentes afinal... se o somos todos, diferentes.
Caminho apressada entre dois compromissos, preciso de coisas do supermercado. Andar depressa espanta o ar frio que insiste em colar-se a mim, subir pelas mangas do casaco, gelar-me o nariz. São duas da tarde, o frio é de meia-noite.
Em sentido contrário correm três crianças Roma. Pouca roupa, ainda menos banhos. Uma garotita dos seus 9 anos, a outra menina e um rapaz com menos de 7. Vêm a brincar. Iguais a todas as outras crianças, mas tão diferentes.
É que estes três meninos só têm um brinquedo. E o par de patins consegue ser brinquedo para todos. A maior calça um patim e um sapato, a mais pequena o mesmo, e o menino corre atrás delas a sorrir. As duas, de patins e mãos dadas, ele a tentar alcançá-las, as risadas dos três a ecoar por toda a rua. Tão felizes com algo tão simples. Tão diferentes, mas tão iguais afinal a todas as crianças.

sábado, novembro 15, 2008

1,2,3... vai

Hoje é um dia em que eu me devia concentrar. Para ser sincera, é o primeiro dia de trabalho sério, árduo e metódico que devia ter em dois meses. É verdade, hoje passam dois meses desde a tarde em que saí de casa de malas na mão, para esta aventura. Arrepiei-me quando percebi isso, esta manhã. Que dois meses! Que dois meses, cheios de pessoas, de gestos, de novidades, cores, sabores e cheiros improváveis. Que dois meses, marcados hoje por esta decisão "Tens de te concentrar, Fernanda". Começou! Começou agora aqui aquilo que me começava a angustiar em Vila Real, as últimas épocas de exame estiveram muito longe da calma com que costumava levar todo esse processo. Espero por ansiedade, apertos no peito, insónias, seguidas de pesadelos em que não me recordo do nome dos parasitas que devia ter na ponta da lingua. E muito estudo de última hora, talvez ainda um nome rabiscado no braço, ou escrito num post-it amarelo e guardado no bolso de mais fácil acesso. Uma hora irritante de exame... à espera da sensação de alívio habitual, tenha corrido bem, mal ou assim-assim. O peso que eu sinto levantar-se durante o exame faz-me esquecer as consequências das respostas, o valor da unidade curricular, o que vocês queiram.
Fica prometido, a dois angustiantes dias do exame, que segunda-feira será um dia de alívio! Saia eu morta ou viva daquela sala, a primeira, depois do primeiro de muitos testes, o dia vai ser meu. E quem sabe todas as outras angústias que me têm perseguido se desvaneçam também... façam de conta que não estão lá, só por aquele fim de tarde. Para não me martelarem de memórias, de dúvidas, de perguntas parvas e arremedos de respostas ainda mais insignificantes. Tudo muda, mas afinal nada mudou. Afinal estou aqui, e continuo a mesma miúda que não sabe tomar conta de si, e precisa de alguém de confiança que a proteja. A diferença é que agora sei disfarçar, e perco mais do que ganho com isso. Ninguém abraça a menina que parece forte suficiente para decidir por si só, que não parece ter dúvidas, ou que se as teve, as esclareceu de modo exemplar. Não sou assim, afinal. Sou a mesma...
Não sei que rumo levo nestas palavras desorganizadas, um ramalhete de pequenos apontamentos sobre o estado da minha cabeça estes dias. Mas precisava de, por algum modo, as deixar em algum lado. Ficam aqui, porque não deixá-las na minha casa? Talvez se sintam acompanhadas pelas palavras de dias mais felizes, que ficaram para trás, e talvez se animem. Quem sabe segunda-feira as minhas palavras serão diferentes?
Um bom fim de semana.