domingo, junho 18, 2006

De como crescemos de cada vez que nos magoam

(Nem tudo aqui exprime a minha opinião séria e racional. É apenas um devaneio de quem também se deixa levar pelas emoções. O ser Humano recusa por tendência a dor, embora saiba que tem de passar por ela.)
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Há dias em que a saudade de ser criança é demasiada para se aguentar. Pode parecer demasiado Pessoano, mas não deixa de ser verdade. Aqueles dias em que a responsabilidade máxima era não sujar demasiado a saia nova, ou em que o mais doloroso que nos podiam fazer era chamar-nos feios ou caixa-de-óculos, luzem acima de nós como lembranças de despreocupação e felicidade máximas.
Mas hoje, no mundo real (dolorosamente palpável), não há irmão mais velho que me proteja do gozo dos outros meninos, não há mãe que me cure as feridas com muita tintura de iodo, em desenhos de flores espalhados por toda a perna. Estão longe, no tempo e na distância.
Agora dói a sério, cada golpada, cada ferida.
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Magoaram-me, confesso. Muito, demais em pouco tempo. Os Homens, os Deuses, o Destino. Em poucos meses, parece que veio um tornado e virou a minha vida do avesso. Namorado, amigos, família, muitas mudanças… e a maior parte dolorosas e definitivas.
Mas, ao que parece, é isto que nos faz crescer. A dor é um adubo, puxa por nós, obriga-nos a crescer. Mas este ganhar de raízes mexe comigo.
O principal não é o lado exterior e estereofónico da dor. O choque, a surpresa, o choro, a raiva… passam todos, o tempo apaga-os. Mas a dor de dentro, difusa, fininha, a moer… essa custa mais. É essa que deixa marcas, como novos ramos deixam nós na árvore mãe.

Há um lado em mim que continua a chorar baixinho, mesmo agora que a dor exterior assentou.
O processo é lento, pesado. E assim aprendemos a ser mais atentos, a ser mais desconfiados, mais frios, mais distantes… mais adultos!
Passar para o mundo “dos grandes” é basicamente perder a espontaneidade e a confiança nos outros. Nunca sabemos quem nos pode atingir, ou quem se vai tornar nosso aliado… não se pode arriscar.
Magoaram-me, sim… e eu só quero voltar atrás, fugir do que é real e tão feio… voltar às corridas e aos jogos e aos bichos apanhados no meio do quintal. Cresci, e só quero ser pequenina de novo…
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Crescer por dentro é desiludir a criança que trazemos agarrada a nós.

10 comentários:

Gerente disse...

"Crescer por dentro é desiludir a criança que ha em nós" Existe uma certa verdade nisso e talvez não corresponda á totalidade do teu raciocínio. Mas no meu ponto de vista acho que somos obrigados a crescer precisamente para não desiludir nem magoar essa criança que ha em nós... porque essa criança é aquilo que de melhor existe em nós.

Anónimo disse...

Subscrevo completamente Nandita. De um modo ou de outro, acredito que todos os que lerem o teu texto se vão identificar com ele, pois quase todos já passamos por situações dolorosas e que ficam marcadas em nós como um ferro em brasa num um animal: para sempre!
Por um lado parece cruel termos que suportar dor e sofrimento para crescer, mas como muitos sabem "o doce não é doce sem antes teres provado o amargo".
É como o sistema imunitário, da primeira vez ficamso de cama, da segunda já temos muitos anticorpos para o mesmo virus e só damos uns espirros ;)
Gostei muito do teu texto e identifico-me muito com ele.
Força Nandita

Mónica Lice disse...

Gostei de conhecer este teu cantinho!

Beijinhos e uma boa semana!:)

L. disse...

é impressionante a forma como consegues sempre ser tão bela e sentida.. e como consegues ensinar sempre um novo modo de sentir um sentimento que milhentas vezes senti.. e olha que eu sou “o rapaz que sente demais”.. ;)

és linda, miúda. tudo em ti, aliás. até a dor…

,beijo do rapaz

Anónimo disse...

O melhor post que já li da dear Nandita!
Soberbo, realista...e também com teor triste.
Força linda!
Temos de crescer mas deixar viva a mentalidade de criança! ;)
O nosso café?
temos de combinar um dia...combina tu ;)

Anónimo disse...

Se tu soubesses cmo eu te percebo... É tão bom quando acreditamos realmente que as coisas são como nos filmes,que não outros finais senão os felizes... Crescer é uma merda! (dsc a expressão...)

Ana João disse...

muito sensivel querida nandita

Frederico Lopes disse...

á muito tempo que não lia coisas tão bonitas. tem.me feito muito bem esta jornada pelos blogs destas meninas fantásticas.
este texto é sem dúvida o melhor e mais bonito, até agora. falta ler o que está para cima

Rick disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Rick disse...

É triste mas tambem acho que é verdade... "Crescer por dentro é desiludir a criança que trazemos agarrada a nós."
E em minha opiniao é por isso que "O ser Humano recusa por tendência a dor, embora saiba que tem de passar por ela", porque nao que deixar essa criança desaparecer...
Tá muito bonito o texto!
Fica bem*