"Quem és?" perguntou ela ao senti-lo respirar atrás de si, inseguro... A resposta foi um beijo nos cabelos, a medo... "Sou eu, não me reconheces?", e de tanto que era o tempo que já tinha passado, a pergunta hesitava, com medo da resposta... Mas ela procurou-o, as suas mãos, estreitou-as na cintura, fechou-se no seu abraço.
"Tinha medo que não viesses, estiveste tanto tempo longe que pensei que me esquecesses..." e sorria, ao ver que se tinha enganado. Voltou-se e beijou-o na testa "Bem-vindo de volta" Ele estava ali, sujo, afogueado, acabado de chegar sabe Deus de onde, e vinha procurá-la.
O tempo tinha passado por ele, notava-se-lhe no olhar e nos cabelos com toques de branco, a barba crescida, a voz mais funda, marcada de vivências que ela nem queria adivinhar. Mas o sorriso mantinha-se inalterado, verdadeiro e feliz.
"Passei tantos anos com a tua imagem na minha cabeça... continuas linda! Desculpa..." mas ela calou-o, a saudade rebentava-lhe do peito, não precisava de desculpas, só o queria ali, pertinho, protector.
Levou-o pela mão, entraram na casa que ele já conhecera, mas que o tempo moldara e reconstruíra, percorreram todas as divisões, os passos dele a medo, porque tudo era novo,afinal.
Era um regresso de silêncio, não feito de ressentimentos nem de culpa, mas de paz, um regresso definitivo.
Pararam na entrada do quarto, o quarto que fora sempre o dela, mas ao qual ele conhecia cada recanto, e cada odor. Cheirava a jasmim, como o corpo macio dela. Passassem mil anos, e ele continuaria com o seu cheiro marcado a fogo, e reconhecê-lo-ia entre outros mil...
Acudiram ao chamamento daqueles lençóis meios desfeitos que ela abandonara minutos antes. "Não conseguia dormir" justificou-se ela, "sabia que andavas por perto, só podias ser tu"
E a cama acolheu-os aos dois, que se tornavam um só... porque os regressos não pedem justificações, não desenham culpas nem acordam remorsos... os regressos são feitos de entrega.
E entrega será, por entre as dobras dos lençóis mornos, até à madrugada...
12 comentários:
Interessante... no fundo descreves aquilo que a humanidade busca à milénios...
Os regressos são um rebentamento sa saudade! Gostei deste post... embora não ache que todos os regressos acabem na cama! bjinho
Finalmente... O blog ja tinha teias de aranha :p
Os regressos são realmente uma coisa admirável porque acabam com vazios no peito tão dificeis de preencher. Mas às vezes não passam de miragens que o passado traz para nos enganar. Bj e bem vinda de volta
Bem, conseguiste comover-me seriamente... A mim, sádica, cruel e insensível! :D
Agora falando a sério... Fizeste-me pensar... Pensar na forma como a vida se move, encontros e desencontros, partidas e regressos, ou então partidas para nunca mais regressar...
Continua assim, sempre.
Beijinhos.
Carla
não é o que todos queremos e procuramos? regressar?
beijos
nem sempre os regressos são coisas boas..às vezes a distância existe para ser mantida.. Bom texto!! Gostei!
Como vais actualizando o tasco muito rareiramente acabei por n vir cá a tempo de receber o prémio de ThinkBlog. Sendo assim aceito-o tardia mas euforicamente e vou já tratar de desvirginar uma futura caloira de Veterinária aí da UTAD com quem me cruzei no Hi5 há uns meses como forma de comemoração...
Em relação à última posta é linda mas muito, muito, muito clean. Silêncios perfeitos, frases absolutas (variantes de sempre e nunca abundam) e até um good-old momento fusionista de se tornarem dois num só. Os seres humanos só são assim tão bonitos quando se está a fechar os olhos a alguma coisa ; )))))))))))))
É sempre assim, um dia aparece alguém. Que nos faz aproximar os sentidos do infinito, maioria das vezes não procuramos, simplesmente nos encontramos… mas depois vem a separação, a distancia e o saudosismo regressa, primeiro invade-nos o pensamento, a memoria, o desejo, procura-se o cheiro que se deixou para trás na brisa da suave madrugada… procura-se um passado tão presente quanto o futuro… e é no breve sussurrar da manhã que se deixa partir o que nunca foi nosso…porque nada há de mais belo e puro que o platónico… que o que se satisfaz com a alma… e por mais luas que passem os sonhos são sempre fruto de um desejo inconstante e tardio… é então que se acorda do sonhe e se corre para a primavera, deixamo-nos de lado a vê-la(o) dormir a quimera…
Tu és especial...sente-se...!
Beijinho
Ola menina esta muito bom sim senhor
esta tudo bem ctg?
Ola nandita!!!
Mt bem!
Gostei mt do teu blog..
Textos mt bonitos k nos levam a varias interpretações...
Cada um adapta à sua realidade...
Bju**
Lindo, lindo, lindo, lindo!
"os regressos não pedem justificações, não desenham culpas nem acordam remorsos... os regressos são feitos de entrega."
linda frase!
Beijo grande senhora nandita
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