É mais uma noite calma na cidade que sorteei na roda da fortuna. E hoje dou por mim a pensar nesta vida em pequenos quadradinhos que vivo. Já me habituei, e gosto, da aparente distância e autocontrolo que nos permite uma vida em apartamento. Mas às vezes dou por mim a estranhar a vida fechada num quadrado.
Da varanda consigo observar a vida de outras pessoas, a menos de dez metros de mim, saber a que horas jantam, qual a cor dos seus lençóis, até, quem sabe, o fulgor das suas vidas sexuais ou a desgraça das suas famílias.
E na verdade, estou tão longe… sei que se o vizinho casar, enviuvar, viajar, morrer, provavelmente eu não o saberei, e continuo a viver tão feliz como no dia anterior. E isso assusta-me. É asfixiante saber que posso estar a morrer, e ninguém vai dar por ela. Ou vão dar, mas uns dias depois, com a alma entregue ao Criador e o corpo a seguir o curso da Natureza.
Sou uma medricas, não sou? E egoísta, e até vaidosa, por não gostar da ideia de me encontrarem assim, apodrecida. Mas é a herança que trago de um local onde os vizinhos são parte da família, para o bem e para o mal. Onde os vizinhos são os primeiros a saber das grandes noticias, e os primeiros a perceber e a ajudar nas desgraças.
O fim da vida verdadeiramente comunitária desilude-me, e torna-me descrente em relação a este mundo onde temos muitos amigos, mas depois sofremos e morremos de forma higiénica, o mais afastado possível das outras pessoas. Não vão elas impressionar-se com tamanha falta de civilidade…
E hão-de dar pela nossa falta só quando folhearem o jornal, em mais uma manhã solarenga de domingo, e virem o nosso obituário. E então, muito senhores de si, dirão de sua justiça sobre nós, que nunca conheceram realmente e que não estamos lá para nos defender.
Da varanda consigo observar a vida de outras pessoas, a menos de dez metros de mim, saber a que horas jantam, qual a cor dos seus lençóis, até, quem sabe, o fulgor das suas vidas sexuais ou a desgraça das suas famílias.
E na verdade, estou tão longe… sei que se o vizinho casar, enviuvar, viajar, morrer, provavelmente eu não o saberei, e continuo a viver tão feliz como no dia anterior. E isso assusta-me. É asfixiante saber que posso estar a morrer, e ninguém vai dar por ela. Ou vão dar, mas uns dias depois, com a alma entregue ao Criador e o corpo a seguir o curso da Natureza.
Sou uma medricas, não sou? E egoísta, e até vaidosa, por não gostar da ideia de me encontrarem assim, apodrecida. Mas é a herança que trago de um local onde os vizinhos são parte da família, para o bem e para o mal. Onde os vizinhos são os primeiros a saber das grandes noticias, e os primeiros a perceber e a ajudar nas desgraças.
O fim da vida verdadeiramente comunitária desilude-me, e torna-me descrente em relação a este mundo onde temos muitos amigos, mas depois sofremos e morremos de forma higiénica, o mais afastado possível das outras pessoas. Não vão elas impressionar-se com tamanha falta de civilidade…
E hão-de dar pela nossa falta só quando folhearem o jornal, em mais uma manhã solarenga de domingo, e virem o nosso obituário. E então, muito senhores de si, dirão de sua justiça sobre nós, que nunca conheceram realmente e que não estamos lá para nos defender.
É a essência absolutamente asséptica da vida moderna. Viver e morrer sem fazer mossa...
O que é que vocês acham? Estamos mais próximos, hoje em dia, ou cada vez mais afastados de quem está ao nosso lado?
1 comentário:
Se estamos mais próximos ou afastados de quem é familiar à nossa vista quotidiana não sei a resposta. Na verdade, nunca tinha conseguido ver as coisas desta forma, até agora.
Obrigado por me abrires os olhos.
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