quarta-feira, novembro 19, 2008

Crianças

Ainda agora soaram as 2 da tarde na minha cabeça, mas o dia já vai longo para mim. Aqui no leste da Eslováquia, o Inverno dita que às 4 seja noite fechada, e as pessoas com quem me cruzo agora parecem cansadas como num fim de dia.
Passo por crianças a chegar da escola, mães atarefadas com os seus sacos de compras, idosos com um ar tão sólido e inquebrável como os edíficios comunistas que nos cercam. Igual a qualquer outra cidade, mas tão diferente afinal...
Neste bairro, como por toda a cidade, cruzo-me com Roma, habitualmente inofensivos, encostados pelos cantos, sentados nos jardins. Pousam em sítios muito frequentados, sempre sujos, mal agasalhados, a tentar esconder o frio a cada cigarro que puxam. A pedir, ou simplesmente à espera que alguém lhes dê algo. Iguais a todos os outros, mas também aqui tão diferentes afinal... se o somos todos, diferentes.
Caminho apressada entre dois compromissos, preciso de coisas do supermercado. Andar depressa espanta o ar frio que insiste em colar-se a mim, subir pelas mangas do casaco, gelar-me o nariz. São duas da tarde, o frio é de meia-noite.
Em sentido contrário correm três crianças Roma. Pouca roupa, ainda menos banhos. Uma garotita dos seus 9 anos, a outra menina e um rapaz com menos de 7. Vêm a brincar. Iguais a todas as outras crianças, mas tão diferentes.
É que estes três meninos só têm um brinquedo. E o par de patins consegue ser brinquedo para todos. A maior calça um patim e um sapato, a mais pequena o mesmo, e o menino corre atrás delas a sorrir. As duas, de patins e mãos dadas, ele a tentar alcançá-las, as risadas dos três a ecoar por toda a rua. Tão felizes com algo tão simples. Tão diferentes, mas tão iguais afinal a todas as crianças.

1 comentário:

Brida disse...

as crianças são muito mais iguais em todo o mundo do que as diferenças que apontamos às civilizações, aos adultos, a tudo, faria supor. se não têm um brinquedo, fazem um, se não podem fazer, inventam algo... às vezes penso que ao crescer não deveríamos perder esta capacidade de nos encantarmos com e encontrarmos alegria nas mais pequenas coisas...