(Nem tudo aqui exprime a minha opinião séria e racional. É apenas um devaneio de quem também se deixa levar pelas emoções. O ser Humano recusa por tendência a dor, embora saiba que tem de passar por ela.)
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Há dias em que a saudade de ser criança é demasiada para se aguentar. Pode parecer demasiado Pessoano, mas não deixa de ser verdade. Aqueles dias em que a responsabilidade máxima era não sujar demasiado a saia nova, ou em que o mais doloroso que nos podiam fazer era chamar-nos feios ou caixa-de-óculos, luzem acima de nós como lembranças de despreocupação e felicidade máximas.
Mas hoje, no mundo real (dolorosamente palpável), não há irmão mais velho que me proteja do gozo dos outros meninos, não há mãe que me cure as feridas com muita tintura de iodo, em desenhos de flores espalhados por toda a perna. Estão longe, no tempo e na distância.
Agora dói a sério, cada golpada, cada ferida.
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Magoaram-me, confesso. Muito, demais em pouco tempo. Os Homens, os Deuses, o Destino. Em poucos meses, parece que veio um tornado e virou a minha vida do avesso. Namorado, amigos, família, muitas mudanças… e a maior parte dolorosas e definitivas.
Mas, ao que parece, é isto que nos faz crescer. A dor é um adubo, puxa por nós, obriga-nos a crescer. Mas este ganhar de raízes mexe comigo.
O principal não é o lado exterior e estereofónico da dor. O choque, a surpresa, o choro, a raiva… passam todos, o tempo apaga-os. Mas a dor de dentro, difusa, fininha, a moer… essa custa mais. É essa que deixa marcas, como novos ramos deixam nós na árvore mãe. Há um lado em mim que continua a chorar baixinho, mesmo agora que a dor exterior assentou. O processo é lento, pesado. E assim aprendemos a ser mais atentos, a ser mais desconfiados, mais frios, mais distantes… mais adultos!
Passar para o mundo “dos grandes” é basicamente perder a espontaneidade e a confiança nos outros. Nunca sabemos quem nos pode atingir, ou quem se vai tornar nosso aliado… não se pode arriscar.
Magoaram-me, sim… e eu só quero voltar atrás, fugir do que é real e tão feio… voltar às corridas e aos jogos e aos bichos apanhados no meio do quintal. Cresci, e só quero ser pequenina de novo…
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Crescer por dentro é desiludir a criança que trazemos agarrada a nós.