terça-feira, setembro 25, 2007

Verdes anos


É no embalo da guitarra que estas palavras se guiam. Na voz perfeita das cordas que nos prendem, mal ecoam nas mãos mágicas de quem as rege.
Na guitarra-cantora que é uma história inteira.
Calma, mas firme, entra a nostalgia. O som dolente e compassado, saudade da juventude que ainda nem se apagou. Tocam fundo, as saudades antecipadas. Vejo-me em rugas, sinto-te em tez morena do sol duro, restos da vida que já quase se foi... mas que ainda mal começou. E saber que amanhã não resta nada da frescura destes dias deixa-me com menos ânsia de os viver.
A música não acalma. Angustia, sugere, amedronta... e queda-se, como se terminasse, como se não nos mostrasse mais do amanhã... mas depois volta, outra vez jovial, compassada. A análise perfeita da vida, nas cordas a entrelaçar-se. Certa, regrada, mas capaz de surpreender... e quando pensamos que não há mais nada, e a guitarra perdeu a voz, esta ergue-se, e a vida é significante outra vez.
E segue o seu cantar, agora em cordas fortes, que desenham o seu caminho pelo ar, prendem-nos o coração. Presa entre fios, suspensa no ar, no sonho e na nostalgia. Teria eu melhor vida?
Deixo-me prender, agarro o som poderoso e ergo-me no ar, já fora de mim. Olhar-me de cima é deixar-me surpreender pelo modo como sigo o caminho cá em baixo. Porque sigo inocente do que está para lá da curva, sem saber como me vou magoar. Mas suspensa no ar não... vejo que a menina que ali vai há-de sofrer, e chorar. Mas só assim vai crescer.
E quando as cordas se emaranham de novo, e me confundem, e voltam à cadência inicial, soltam-me cá em baixo, menina inocente de novo. Com a diferença de ter a vaga impressão de que o caminho não vai ser fácil. Mas com a vontade de o percorrer restaurada...
Acabo por segui-lo, guiada pelo murmurar constante da guitarra, pelos sons que não me abandonam. E que me podem levar de novo pelo ar, e salvar-me de mim.




Já não escrevo há muito, e às tantas parece que me desabituei do exercício que me dá tanto prazer... em jeito de "Fisioterapia" fica o que me saiu nos últimos dias... E a quem me visita a promessa de voltar com mais forças, um dia destes...

6 comentários:

Ghost disse...

Aqui no blog como no dia a dia, tens sempre as palavras certas pra nos fazer sentir melhor. És uma amiga assim mais longe que o Japão :p

Carla Ribeiro disse...

"E saber que amanhã não resta nada da frescura destes dias deixa-me com menos ânsia de os viver."

Será que a convivência te anda a fazer mal? :D
Agora a sério... Só há pouco tempo descobri, mas aquilo que tu escreves tem uma magia muito especial. Mantém-te assim.

Daniela disse...

oi Fernanda!
então tudo bem?
estava a dar uma vista de olhos no teu hi5 e descobri o teu blog! está fixe! vou passar mais vezes!

beijinho grande e bons estudos!
tudo de bom para ti!

L. disse...

humhum..nós esperamos, então.


PS:

a mesma casa, endereço novo:

http://dias-curtos.blogspot.com/ ,

o mesmo luis ;)

Anónimo disse...

Há que voltar, rapariga, que este blog já chora como a guitarra! E a blogosfera já tem saudades tuas. Beijinho

Anónimo disse...

caramba pelo k escreves e como escreves deves estar todo partinha do tratamento!
:)