segunda-feira, janeiro 25, 2010

Baú 1.1

...e, num instante antes de dormir, volta-me à memória a imagem daquele pátio, entre prédios, em Constanta. Era sábado de manhã, e uma mulher e um rapaz penduravam um grande tapete numa corda de estender roupa, e batiam-lhe. O pó saltava, espalhava-se baixinho, o dia estava pesado e com nuvens carregadas.
Da janela da sala, poucos andares acima do pátio, observei-os distraidamente. Não lhes dei a mínima importância, confesso.
Os gatilhos que despoletam memórias são sempre um pouco misteriosos. No meu caso, retorcidos. Mas fizeram-me lembrar disto. De como era sábado de Aleluia para mim, e, para eles, faltava ainda uma semana para a Páscoa. De como, no tapete poeirento, na imagem bucólica e tão próxima, sei-o agora, só agora, eu vi de relance a minha própria casa, os meus tapetes ao sol, numa limpeza tão real quanto simbólica, rito de passagem, a três mil longos quilómetros dali.


Que no tengo miedo a que pase el tiempo
Sino que pase y se pierdan los recuerdos.

E as memórias boas, as que reconfortam e dão esperança, merecem ver a luz do dia... E neste dia de Janeiro que prometeu Primavera, sabe bem partilhar.

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