Em jeito de saudades recentes do teu beijo, de frio na pele à falta do teu toque, de frio na alma sem a tua luz que me aquece, de braços vazios sem te ter por perto...

...em jeito de me querer fora daqui.
...em jeito de me querer fora daqui.
Obrigado David...
Às vezes, não olhamos bem em nossa volta, quando andamos na rua… E eu começo a achar que tenho perdido pormenores importantes! As imagens fotográficas da realidade quotidiana tornaram-se uma parte querida das minhas memórias mais antigas. Agora pareço querer barrar a entrada a novas imagens.
Deve ser coisa da idade, mas ultimamente dou por mim a caminhar de olhos no chão… concentrada em desenhos geométricos e restos de pastilhas elásticas, como se o Mundo pudesse acabar, por eu não os olhar devidamente. Pareço ridícula? Pareço-me ridícula…
Há uns tempos defini-me como anti-social. É um termo como qualquer outro, com a sua dose de imprecisão, mas o rótulo caiu-me por terra quando alguém achou que eu “tenho jeito para lidar com as pessoas”… Começo a achar estranha esta contradição, entre aquilo que eu me sinto, e aquilo que as pessoas me acham…
Sou anti-social, embora não saiba o que significa isso em termos absolutos. Sou anti-social pela minha tendência em evitar os outros. Só! Tenho medo de entrar sozinha num autocarro, de perguntar a alguém o caminho mais curto, de chamar o empregado de café… Assusta-me falar com quem não conheço, na minha cabeça todos me observam de cima a baixo e me julgam, em dois segundos!
Mas não… eu tenho “jeito” com as pessoas. Qual jeito? O jeito de conseguir trocar duas palavras e um sorriso com as pessoas que conheço? Isso não é mais do que o mínimo e indispensável… Se, à partida, conheço a reacção de quem me está a ouvir, não me sinto minimamente constrangida…
O meu problema é com o Mundo, não com a minha aldeia!
Deve vir daí a minha nova tendência de caminhar de olhos no chão. Raio de medo de enfrentar o Mundo! É algo que eu estou a tentar contrariar.
Hoje, aproveitei o facto de ir sozinha, numa cidade que é quase fantasma aos domingos, para olhar em volta. E senti saudades… pela senhora que andava no jardim a arrancar ervas, pelo homem que ia ensinar a filha a andar de bicicleta, pelos miúdos que se juntavam ao sol, em bandos, pelos velhotes que jogavam a sueca no café…
Saudades de quê? Não sei, saudades de outras imagens, aquelas que entravam em magotes pela alma: magustos intermináveis, com todos os homens a jogar as cartas, a minha mãe, sempre em cuidado com as suas flores, a minha primeira bicicleta, uma geringonça que se desmontava sozinha, as saídas de casa para ir sabia Deus aonde, no banco de trás, a conhecer o mundo pela voz do meu pai…
Talvez o meu caminho desta tarde me tenha ajudado a ganhar coragem. Se eu não tinha medo naqueles dias, guiada pela sabedoria dos meus pais, porque é que vou começar a tê-lo agora, que me posso guiar pelas minhas descobertas, pelas minhas experiências?
Amanhã começo…
Assim "começa" Saramago o seu mais recente "As Intermitências da Morte"... Confesso que gostei, como tem vindo a ser hábito, do novo livro... mas esta coisa da morte deixar de funcionar deixou-me com macaquinhos na cabeça...